sábado, 16 de outubro de 2010

NADA É POR ACASO


 Um dia desses, ia eu saindo da escola, meio preocupada com o dia ruim que tive antes de lá entrar, quando, de repente, uma mulher foi esbofeteada a uns 20 metros de mim. Corri ao seu encontro, enquanto seu agressor quase fugia rapidamente e ela, ela apenas chorava, de mãos dada com seu pequenino filho, que agarrado às suas pernas, estava muito assustado com a cena.
No momento do socorro, abracei aquela mulher, sem querer saber quem era, o que fazia ou onde morava. Ela apenas precisava de um abraço, depois de tamanha brutalidade. Era uma moça de seus 19 anos, negra e de sonhos interrompidos por uma maternidade prematura e a ruptura de seus sonhos de felicidade ao lado do homem que dizia lhe amar. Homem esse, que não demoraria muito tempo, seria o seu algóz e ela seria mais uma vítima morta em nome da covardia de um  homem, que agredia aquela mulher todos os dias , com xingamentos e pontapés. E onde ficou o amor?...
Sentei-me ao lado daquela moça e, pela minha curta experiência de vida, tentei lhe alertar, quando soube que já sofria maus tratos há algum tempo. Tentei lhe mostrar o triste fim que lhe aguardava, como o fim de muitas mulheres que morrem todos os dias nesse Brasil, vítimadas pela brutalidade, pela covardia de homens sem coração, egoístas e acobertados pelo sentimento de impunidade. Esses homens(se é que se pode chamar de homem um ser como esse!) que induzidos por sentimentos tão mesquinhos, são capazes de matar, mas nunca em nome do amor, poir quem ama, jamais mata! Quem ama sofre, chora, se entristece ao ver o outro se afastando, mas matar, nunca!
Eu senti a dor daquela moça. Eu senti a tristeza dela. Eu me indignei profundamente por ela e por aquela criancinha que ainda nem entendia o que estava acontecendo com aqueles dois seres que, supostamente, um dia se amaram e aos quais ele chamava de pais.
Passados alguns dias, depois de ter cuidado dela no mínimo que eu podia, estava quase chegando ao meu colégio, quando ouvi vozes atrás de mim, muito alegres, de algumas moças. E uma delas era aquela que havia se erguido das cinzas e traçado um novo caminho para a sua vida e para a vida de seu pequeno filho. Estava mais arrumada, penteada, perfumada e feliz! A minha alegria foi tanta, que passei o resto do dia numa alegria tamanha.
Portanto, aceitar a violência calada, só leva à mais violência e, infelizmente, à morte.
Você não apanhou por acaso. Aquela moça não passou em minha frente por acaso, num dia em que eu estava bem infeliz. Ela não reagiu por acaso. Deus estava no controle e quando ele assume a direção do curso da nossa vida, não há ninguém que possa mudar isso.

Sueli L. Vieira

Nenhum comentário:

Postar um comentário